Com menos go-go boys, drag queens e fantasias, evento tem decoração contida e abre espaço para popularização
Além de música eletrônica, trios tocavam samba e bossa nova; organizadores e PM não quiseram estimar público que foi à parada
26/05/08
Nada de Marina Lima, Bruno Gagliasso ou Christiane Torloni: as maiores celebridades a dar as caras na 12ª Parada do Orgulho Gay, realizada ontem em São Paulo, desta vez foram mesmo o travesti Andréa Albertino, aquele que acabou com o jogador Ronaldo em uma delegacia carioca, e a atriz-pornô-lésbica Thammy Miranda, filha de Gretchen. Os go-go boys, aqueles modelos musculosos das festas gays, contavam-se nos dedos. A decoração dos trios elétricos limitou-se a balões coloridos. Havia pouca gente fantasiada. As drag queens eram escassas. Quanto ao som, o techno, ritmo de bate-estacas típico das baladas, cedeu espaço até para o sambão e a bossa nova.
"A parada de São Paulo perdeu o glamour, ficou popular demais", reclamou o "diabinho" Maurício Rosendo da Silva, 21, cozinheiro, vestido com uma fantasia justíssima de lantejoulas vermelhas, chifres e tridente. "Mas ganhou em diversidade", contemporizou Maria das Graças Dias, 45, professora, de mãos dadas com a namorada de gravata preta, cabelos curtos arrepiados à força de gel. "Antes, a gente nem podia sonhar em ter um trio tocando samba. Era tudo um som só, um estilo só, um tipo ideal de bicha, outro de drag", analisou. O cozinheiro preferia como era antes, "menos popular".
O performista Thiago Augusto Gomes, 21, viajou de Franca (SP) para a capital com um grupo de dez "amigas". "Nossa, eu esperava um pouco mais de brilho", disse, observando o movimento em frente ao Masp, área de concentração. Sem maquiagem, ele reclamava do pequeno número de participantes que foi "montado" à parada. Também Kimberlyn, 22, drag carioca com fantasia de Princesa Submarina, disse ter ficado desapontada com a falta de criatividade das "bichas paulistas". "Falta fantasia, meu bem."
O que se viu na avenida Paulista e na rua da Consolação foram as logomarcas dos patrocinadores. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, distribuiu bandeirinhas com dois bonequinhos homens de mãos dadas e idem com duas bonequinhas mulheres: "Caixa, o banco que acredita nas pessoas". Sobrevoando a avenida Paulista, via-se um minizepelim da marca de cuecas Surrender. Slogan (inspirado?): "A cueca que faz as cabeças".
Nem a polícia nem os organizadores da parada arriscaram-se a avaliar o número de pessoas que fizeram a festa, neste ano organizada sob o tema "Homofobia Mata! Por um Estado Laico de Fato".
Antes da saída do primeiro trio, a drag Silvetty Montilla, que comandava o carro, brincou: "Alcançamos 5 milhões (risos)". O site oficial da parada divulgou esse número. Mas, no final do evento, recuou. A organização disse que só hoje apresentará um balanço, com base em imagens terrestres e aéreas. No ano passado, houve divergências sobre o número de participantes -a organização disse terem sido 3,5 milhões.
Apesar dos cerca de 20 furtos registrados pela polícia, foi uma festa até comportada. Uns beijinhos gays aqui e outros ali, a temperatura só subiu mesmo quando surgiram dois travestis de peitos de fora, diante do cemitério da Consolação. Uma gritaria. Mas quem vibrou foi um grupo de 15 jovens lésbicas, que fizeram questão de posar para fotos abraçadas aos implantes de silicone. "Que delícia de peitos", disse uma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário