'Voz da Experiência'
Publicada em 05/05/2008 às 21h13mNatália Soares - O Globo RIO -
Formado em física e mestre em engenharia nuclear, o diretor da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, foi presidente da Eletrobrás. Ele diz que o bom momento da economia aquece o mercado para a engenharia e que os estudantes de física poderiam dar mais atenção às especializações da área, como a meteorologia. Saiba mais sobre as carreiras de física e de engenharia
Muitos jovens que já se decidiram pela engenharia enfrentam um dilema na hora de decidir qual ramo seguir. Qual a sua dica para o estudante sanar suas dúvidas? (Ralph Guichard)
LUIZ PINGUELLI ROSA: A minha sugestão é cursar uma faculdade que tenha um ciclo básico comum. Deveria ser assim em todas as instituições, para que o estudante pudesse ter uma idéia mais sólida do que ele deseja na engenharia. Acho a entrada direto na especialidade um atraso, porque o estudante pode se interessar por uma área diferente no meio do seu curso e atrasar sua formação por causa disso.
O mercado de engenharia se encontra aquecido, mas queria saber se a longo prazo esse boom pode provocar uma estagnação. Ou o setor entra em constantes altos e baixos? (Raphael Almeida)
PINGUELLI: A estagnação pode vir a acontecer, pois, quando um segmento aquece, cresce o interesse, mas a formação do profissional leva quatro ou cinco anos e a entrada de profissionais no mercado aumenta. O estudante nunca deve se governar pela oscilação do mercado, mas por sua vocação. A universidade não serve apenas para atender a uma demanda de mercado, mas para formar cidadãos preocupados com o avanço do conhecimento. Se todos se preocupassem apenas com o mercado, não existiriam filósofos.
Algumas universidades estão reduzindo o curso de engenharia de cinco para quatro anos. Qual o impacto disso no futuro? (Daniel Hauser)
PINGUELLI: Não acho que passar de cinco para quatro anos piore a qualidade do curso, desde que isso seja feito de forma criteriosa. Muitas vezes temos cursos mais longos do que o necessário. Há que se ver caso a caso.
Tenho visto que a qualidade das aulas de física e matemática no ensino médio tem caído a cada ano. Há a possibilidade de as duas disciplinas desaparecerem do currículo? (Luiz Antonio Bernardino)
PINGUELLI: Seria uma insanidade tirar as duas disciplinas do currículo, e um retrocesso em relação aos outros países. Passamos por uma época em que se formam muitos advogados, por exemplo, e poucos profissionais da área técnica. O ensino é realmente precário, e isso é muito grave porque você compromete a formação científica dos estudantes, o que também compromete a aprovação no vestibular.
Em que nível estão o ensino e a pesquisa em física no Brasil em comparação com os EUA e a Europa? (Leandro Oliveira)
PINGUELLI: A comparação é difícil, pois os EUA e os países da Europa são muito ricos, e o investimento em ensino e pesquisa lá fora é muito maior. Mas a física brasileira tem uma importância muito grande dentro da América Latina.
Como trabalhar com física sem necessariamente estar ligado a uma instituição de ensino ou pesquisa? (Carlos Augusto Loiola)
PINGUELLI: Na maioria dos casos, o $é pesquisador, e vice-versa. Há exceções de instituições voltadas apenas para pesquisa, como é o caso do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Fiocruz, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). A maior parte das pesquisas, no entanto, é desenvolvida na universidade. Há oportunidades para físicos nas áreas nuclear e eletronuclear, nas indústrias nucleares do Brasil, na física médica e em empresas que lidam com radioatividade. Ou então físicos que trabalham como engenheiros e têm chances até no mercado financeiro.
Gostaria de saber se o senhor acha que a física pode vir a ser uma profissão mais valorizada no futuro. (Rodrigo Araújo)
PINGUELLI:A física é uma área básica do saber. Não há como haver uma boa engenharia, por exemplo, sem física. Boa parte das pesquisas na área da engenharia envolvem física, que tem essa característica de estar ao mesmo tempo ligada à natureza, como no caso de fontes energéticas, e também ao desenvolvimento de novas tecnologias. A presença do físico sempre será importante para o desenvolvimento do país.
Por que o mercado é tão restrito para os físicos? A criação de carreiras como geofísica ou física médica seria uma saída para esse problema? Existem conselhos regionais de outras profissões, mas não da nossa. (Ricardo Beck)
PINGUELLI: Uma saída para a questão do mercado é dar mais atenção às especializações dentro da física, como a meteorologia, por exemplo. É verdade que o mercado deveria ser mais aberto aos profissionais. Um setor importante para os físicos é o do ensino, há muita demanda. Mas, para que o estudante se interesse, é necessário que os salários melhorem. Os salários são muito baixos. Acredito que conselhos corporativos são um atraso, não precisamos de um órgão que diga ou não quem é físico e onde ele pode trabalhar. O importante deve ser o conhecimento da pessoa, sua experiência.
www.oglobo.com.br
domingo, 11 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário