Sudão entre guerra e paz
de Davide Malacaria
Resumindo: no dia 9 de janeiro, em Nairobi, no Quênia, o líder dos rebeldes do Spla (Exército de Libertação do Povo Sudanês), John Garang, e o vice-ministro de Cartum, Ali Osman Taha, assinaram um acordo que acaba com um conflito que, de 1983 até hoje (2005), causou cerca de dois milhões de mortos e seis milhões de refugiados. Um acordo acompanhado há muito tempo pela comunidade internacional, particularmente pela ONU e a União Africana que, depois de anos de pressões, obrigaram as partes a sentarem-se à mesa e chegarem a um compromisso. Substancialmente, os acordos de Nairobi sancionam a repartição do Sudão em duas áreas geopolíticas distintas, Norte e Sul, que terão cada uma um governo e exército próprio, mas continuarão a fazer parte de uma mesma nação. Isso acontecerá por um período de transição de seis anos, depois disso o Sul deverá decidir se quer ou não separar-se do Norte. Mas o ponto chave que desencadeou a verdadeira batalha são as royalty sobre os lucros do petróleo, que é abundante no subsolo do Sul e que foram divididos em 50% entre Norte e Sul.
Uma guerra que dura 20 anos
Um lugar-comum, argumentado entre analistas, observadores internacionais e a mídia, explica o conflito entre o Norte e o Sul do Sudão como uma guerra entre o Norte árabe e muçulmano e o Sul animista e cristão. Mas é uma definição que não fotografa uma realidade que é bem mais complexa e articulada. Padre Kizito explica: “No Sudão não houve uma guerra de religião, pois no início do conflito, 22 anos atrás, os movimentos de libertação do Sul eram de inspiração marxista-leninista. As coisas começaram a mudar na metade da década de 1990 quando a direita americana descobriu a existência do Sudão e a guerrilha logo quis aproveitar a ocasião, conseguindo credenciar-se como movimento cristão para obter ajudas políticas e econômicas. Um erro no qual caíram, mesmo em boa-fé, alguns eclesiásticos do Sul. Essa confusão levou, algumas vezes, a uma falta de denúncia dos abusos da guerrilha contra a população do Sul, mas principalmente favoreceu o credenciamento da guerrilha como um movimento cristão".
Stefano Squarcina, secretário adjunto da União Européia para as relações com o Terceiro Mundo, que esteve recentemente no Sudão como enviado da UE, fez um perfil geopolítico muito interessante: “É também inegável que o terrorismo internacional tenha recebido apoio no Sudão: basta pensar que Osama Bin Laden esteve por muitos anos refugiado justamente aqui. Uma situação que não podia ser ignorada. E, como aconteceu para o Iraque, também para com o Sudão há duas linhas de pensamento: a diplomática e a dura, para simplificar digamos a do diálogo da União Européia e a beligerante dos EUA. No ambiente americano parece que se cultive a idéia de desmembrar o Estado atual em três áreas mais homogêneas e portanto mais controláveis: o Norte, o Sul e o Leste. Neste sentido deve ser visto também o apoio por parte de certos ambientes americanos aos movimentos guerrilheiros do Sul e do Leste, onde estão presentes outros movimentos de libertação (o Free lion movement e o Beja congress), particularmente nos Estados de Kassala e Gedaref. Mas é preciso ter cuidado: desestabilizar o Sudão é muito perigoso, corre-se o risco de desintegrar toda a área. Também não se pode excluir a priori um diálogo com o regime sudanês que, como todos os regimes, é uma síntese de várias realidades e, ao lado dos duros, há pessoas razoáveis com as quais pode-se obter um diálogo”.
Na realidade tanta pressão internacional sobre o Estado africano poderia ter outros objetivos. O Sudão é rico em petróleo, que se encontra principalmente nas regiões do Sul, o terreno de combate entre a guerrilha e o governo. No passado o ouro negro era prerrogativa principalmente das companhias norte-americanas. Há alguns anos, desde que o Sudão começou a ser um país exportador de petróleo, a produção sudanesa é controlada na sua maioria por um consórcio sino-indonesiano. Stefano Squarcina explica: “Há os que prevêem, no mundo, o início de uma disputa entre EUA e China, que iria se intensificar nos próximos anos, por isso o apoio à guerrilha do Sudão poderia ser uma ação por parte de ambientes americanos para manter sob controle os caminhos do petróleo chinês... mas além das hipóteses de leitura uma coisa é certa: a guerrilha do Sul não teria resistido por mais de vinte anos sem o apoio internacional”.
http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=7969
domingo, 11 de maio de 2008
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