domingo, 4 de maio de 2008

Entrevista - Alexandre Slaviero: “O trio existe para fazer as pessoas refletirem sobre as leis”

Vencendo o preconceito
Em Duas caras, Heraldo (Alexandre Slaviero) forma um triângulo afetivo com Dália (Leona Cavali) e Bernardinho (Thiago Mendonça)Alexandre Slaviero foi chamado de Kiko por muitos anos. Apelido de infância? Não, nome do personagem que interpretou em quatro temporadas de Malhação, da Globo, sua estréia na TV. O ator curitibano imaginou que demoraria a se livrar do adolescente da trama teen até que Heraldo, de Duas caras, entrou em sua vida. O garçom da novela de Aguinaldo Silva desperta amor e ódio como uma das pontas do triângulo amoroso que tem ainda a carnavalesca Dália (Leona Cavalli) e o cozinheiro Bernardinho (Thiago Mendonça). Ele defende que qualquer maneira de amor vale a pena, desde que não afete o vizinho e, por mais fantasioso que pareça, levanta a bandeira de que a criança filha da personagem Dália deve ser registrada como sendo filha de dois pais: “A mensagem é para fazer o público refletir sobre a lei”.

Quem era Heraldo no começo da novela e quem é hoje?
Como quase todos na novela, ele tem duas caras. Começou como um vagabundo, só queria farra, e só foi atrás de trabalho depois de ser expulso de casa. Ele começou a entender a vida quando apareceu a oportunidade no (restaurante) Castelo de São Jorge. Aí mudou, ficou responsável. E amadureceu com a relação sentimental com Bernardinho e Dália.

Você saiu de Malhação e foi parar em um triângulo amoroso polêmico no horário nobre. Sabia desse enredo quando foi convidado para a novela?
Sabia desde o início. Fiquei lisonjeado por ser convidado para fazer um personagem que iria tratar de um tema diferente, delicado na TV. Fiquei apreensivo, esperando a reação das pessoas. Acho que deu certo porque é uma relação a três que é sentimental, não sexual.

O público rejeita ou torce pelo trio?
Não sinto preconceito, por mais diferente que a relação seja dos padrões convencionais. O telespectador percebe que se trata de um sentimento verdadeiro. São personagens redimidos, um é um ex-vagabundo, a outra é uma ex-viciada e o outro brigou com a família.Ficou surpreso com a aceitação?Nem tanto. O (autor) Aguinaldo Silva escreve de forma sutil, talvez incomodasse se fosse para o lado sexual.

Não há saia justa nem com o público conservador?
O que escuto são brincadeiras sobre a sexualidade dele. A galera jovem diz “ah, o Heraldo dorme na mesma cama que o Bernardinho, ele é homo”. (risos) Respondo que não, que ele é hetero. Mas fica tudo na brincadeira. A história é tratada de maneira sutil, as pessoas aceitam um pouco mais. E cada um com seus problemas, desde que não interfira na vida do próximo. Acho que o pessoal está cuidando mais da sua vida que da do próximo, isso é bom.

Por que o homossexualismo ainda é assunto polêmico na TV?
O assunto ainda é delicado na vida real, é difícil de ser tratado, é tabu. Muita gente ainda é conservadora.O triângulo luta para registrar a filha de Dália com dois pais. Fantasioso demais, não acha?É para fazer as pessoas refletirem sobre as leis, os limites que as leis impõem. Os três são tão bem resolvidos, por que não registrar a criança? Já existem crianças registradas por dois pais, por que não por uma mãe e dois pais? Eles não querem dar o nome à criança por vaidade, mas para proteger, se responsabilizar.

A cena em que o trio foi perseguido por moradores da Portelinha, incentivados pela evangélica Edivânia (Susana Ribeiro), foi criticada por grupos evangélicos. O que achou?
Em nenhum momento foi dito que todo mundo que perseguia era evangélico. A reação dos grupos evangélicos foi exagerada. Eles entenderam a cena de maneira errada. Condeno a posição dessa parte da igreja evangélica que se pronunciou. Todo tipo de preconceito é errado, talvez eles tenham vestido a carapuça.
http://www.divirta-se2.uai.com.br/mexerico/comportamento.asp?codigo=847

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