quinta-feira, 8 de maio de 2008

Depoimentos reforçam acusação contra policial

08 de maio de 2008
Informante da polícia disse ter recebido R$ 6.000 para passar dados a policiais que permitiram extorsão contra facção
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil ontem, o informante policial Carlos Roberto dos Santos disse ter recebido cerca de R$ 6.000 por ter passado dados sobre Rodrigo Olivatto de Morais a policiais civis. As informações foram dadas a Augusto Peña e José Roberto de Araújo -presos em 30 de abril- para que eles pudessem exigir R$ 300 mil da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para que Morais não fosse preso.
Morais é enteado do presidiário Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pela polícia paulista como chefe da facção criminosa PCC. Morais, segundo o Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Guarulhos (Grande SP), foi mantido refém por Peña e Araújo em março de 2005, dentro da delegacia de Suzano, por 48 horas.
Peña, segundo declarou à Folha sua ex-mulher, Regina Célia Lemes de Carvalho, é amigo do advogado Lauro Malheiros Neto, que deixou anteontem o cargo de secretário-adjunto da Segurança Pública. E, segundo ela, Peña dava dinheiro a Malheiros Neto para que ele o protegesse dentro da polícia.
O ex-secretário-adjunto nega essa relação com o policial preso. Diz apenas que ambos trabalharam juntos na polícia em 1993 e que o escritório de advocacia da família atuou em causas cíveis a favor de Peña.
O delegado Nelson Silveira Guimarães, ex-chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), declarou à Promotoria e à Corregedoria que, em 2007, recebeu uma ligação de Malheiros Neto para "liberar" Peña da delegacia de Suzano.
Lá, ele estava em expediente administrativo por suspeita de participação em outra extorsão contra o PCC, de R$ 40 mil, e foi transferido para o Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado).
Além do "ganso" (informante) Carlos Roberto dos Santos, o Carlinhos, que está preso e é jurado de morte pelo PCC, a Corregedoria da Polícia Civil também ouviu outros dois importantes depoimentos ontem. Um deles foi o do delegado Ítalo Zaccaro Neto, que era do setor de inteligência do Demacro.
Neto confirmou saber das relações entre Peña e Malheiros Neto e da influência deste na transferência do investigador.
Uma escrevente da mesma equipe que Peña passou a integrar no Deica disse ontem à Corregedoria que houve uma discussão entre ele e o também policial civil Douglas Pereira dos Santos -assassinado em 14 de dezembro de 2007.
O motivo da briga: Peña teria desaparecido com uma carga de videogames Playstation apreendida avaliada em mais de R$ 1 milhão. Em depoimento ao Gaerco, a ex-mulher de Peña afirmou que a carga desviada foi vendida pelo policial -o que provocou reações dentro da corporação.
A escrevente confirmou ontem que, à época da suspeita do desaparecimento dos aparelhos, um chaveiro reconheceu Peña como a pessoa que pediu para que ele fizesse uma cópia das chaves do depósito do Deic onde os videogames estavam.

CPI das Escutas
Ontem, a CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas confirmou que Peña e os três promotores do Gaerco que o acusam de ter usado grampos telefônicos para supostamente extorquir o PCC vão ser ouvidos na Câmara dos Deputados.
O pedido para a CPI ouvir Malheiros Neto foi retirado da pauta a pedido do deputado William Woo (PSDB-SP).
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0805200825.htm

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