domingo, 4 de maio de 2008

Adoção digital

São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008
A INICIATIVA do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de criar o Cadastro Nacional de Adoção vem em boa hora. A medida vai unificar e cruzar os dados de todos Estados brasileiros seja em relação às crianças a ser adotadas, seja sobre os candidatos a pais adotivos.
A utilização de recursos de informática que facilitam intercâmbios é sempre positiva. O problema das adoções, porém, é bem mais complexo do que juntar ofertantes e demandantes.
Diga-se, em favor das instituições, que a situação já melhorou bastante. Algumas décadas atrás, muitos pais em busca de um filho adotivo preferiam arriscar-se na ilegalidade a enfrentar a lentidão do sistema. Mas, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a implementação dos Juizados da Infância e da Juventude, o trâmite ficou mais simples e rápido. Hoje, todo o processo pode ser resolvido em apenas dois meses.
Segundo a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 120 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos de todo o país. Desse total, cerca de 12 mil precisam de uma nova família. No Estado de São Paulo, a procura chega a superar a oferta. São 7.500 brasileiros e quase 300 estrangeiros para cerca de mil crianças.
A dificuldade é o descompasso entre os desejos dos candidatos a pais e as características das crianças disponíveis. Estudo feito com pessoas inscritas na fila da adoção em São Paulo, em 2005, mostra que grande parte das pessoas pretendia adotar só um filho (99%), menor de três anos (83%) e de cor branca (49%). Já a maioria dos abrigados é de cor negra ou parda (52%), maior de três anos (87%) e possui um ou mais irmãos (56%), núcleo que a Justiça, com toda a razão, tenta manter unido.
O que importa, portanto, é modificar a cultura dos pretendentes a pais, para que aceitem crianças reais e não idealizações. Essa, porém, é uma tarefa que não pode ser feita por um programa de computador.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0305200802.htm

Nenhum comentário: