04 de junho de 2008
Direção nega que restrições visem selecionar público e diz que tomou medidas para evitar risco de arrastões e tumultos
Jovens da periferia de Curitiba, com roupas de estilo skatista e hip hop, afirmam estar sendo alvo de discriminação no local
DIMITRI DO VALLE DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Um shopping recém-inaugurado em Curitiba decidiu colocar seus seguranças para selecionar o acesso de grupos de duas ou mais pessoas e vetar o uso de camisas de times de futebol, sob a justificativa de risco de arrastões e tumultos.
O problema veio à tona após jovens de periferia, com roupas de estilo skatista e hip hop, afirmarem estar sendo alvo de discriminação no Palladium Shopping Center, o maior da cidade.
Com 182 mil m2 de área construída, ele fica na zona sul de Curitiba, a mais populosa da cidade e que concentra favelas e áreas de classe média baixa.
A direção nega que tenha usado as restrições para selecionar seu público. Diz que tomou as medidas para evitar que "bandos" com mais de 50 pessoas se reúnam no local e causem tumulto e insegurança.
"Isso já ocorreu em outros shoppings da cidade. Somos agora a bola da vez", afirma Aníbal Tacla, um dos donos.
Ele diz que o "bom senso" dos seguranças permite diferenciar o cliente habitual de quem está lá para tumultuar. Segundo ele, a direção recebeu denúncias sobre gangues rivais que teriam trocado mensagens pela internet para "disputar o território" do shopping.
"Somos responsáveis pela segurança das pessoas e temos que tomar medidas, baseadas no bom senso, para prevenir tumultos. O shopping é eclético e não discrimina", diz.
Nos últimos finais de semana, jovens têm se reunido em frente ao shopping para protestar contra as medidas. Alguns levam garrafas de refrigerantes misturados a vodca e cachaça.
Há quem afirme ter sido confundido com ladrão apenas por usar roupas de hip hop. "O segurança fica atrás de você pelos corredores e já pensa que [você] vai roubar. Já sofremos muito preconceito", disse o auxiliar de produção Cleiton Cirilo, 19. Ele afirmou que estava sozinho e não teve o acesso negado, mas se incomodou com a atitude dos seguranças.
Zulmar Fachin, da OAB do Paraná, classificou de "inconcebível" a determinação. "Embora seja um empreendimento privado, o shopping é um espaço público, destinado a compras e ao lazer. Em princípio não pode vetar. A suspeita pura e simples de que poderia haver a prática de um ato ilícito não é fundamento para impedir o acesso ou a circulação."
Para Paulo Schier, professor de direito constitucional da Unibrasil, de Curitiba, as restrições podem ferir princípios como o da igualdade. "Alguns critérios fundados nas roupas ou no número de pessoas me parecem discriminatórios porque não estão baseados em nenhum fundamento objetivo para dizer que o grupo pode trazer risco à segurança do público do shopping."
Colaborou JOSÉ EDUARDO RONDON, da Agência Folha
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0406200824.htm
domingo, 8 de junho de 2008
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