sábado, 7 de junho de 2008

Cuba sobe no ringue desde a infância

domingo, 01 de junho de 2008
ESTRUTURA MANTIDA PELO ESTADO SELECIONA ATLETAS POR TODO O PAÍS E DÁ SUPORTE A CERCA DE 5.000 BOXEADORES EM ATIVIDADE NA ILHA, ENGLOBANDO TODAS AS CATEGORIAS E FAIXAS ETÁRIAS

Em Cuba, desde a infância se freqüenta os ringues.
Aos oito anos, crianças que mostram aptidão já vestem o capacete protetor e calçam luvas, daquelas bem acolchoadas (16 onças), que mais parecem algodões doces, para evitar que se machuquem.
É aí que elas aprendem a postura, o caminhar no ringue e desferem os primeiros socos."
"As aulas de educação física têm início aos três anos e são voltadas ao desenvolvimento das atividades motoras em geral. Os professores detectam e anotam quem tem aptidão para a prática do esporte", explica João Carlos Soares, técnico da seleção brasileira de boxe, nascido em Guiné-Bissau e formado em educação física em Cuba, onde atuou como treinador.
Periodicamente, os colégios são visitados por equipes de captação das várias modalidades à procura de garotos de oito anos que tenham interesse e qualidades para algum esporte.
Com o consentimento dos pais, as crianças passam a freqüentar academias rústicas, sem espelhos (para a prática de ""sombra") e tampouco ringue.
Depois de um ano, quem se destaca nos treinos permanece.
Porém, mesmo quem é dispensado tem a opção de seguir praticando boxe, à noite, quando ex-boxeadores e o cidadão comum têm a opção de treinar."
"Cuba produz muitos treinadores, então a demanda é sempre bem-vinda", diz Soares.
Os períodos matutino e vespertino, no entanto, são reservados a crianças e adolescentes, que, às centenas e divididos por grupos etários, vão ocupando as academias em turnos.
Três ou quatro técnicos e mais um coordenador acompanham as atividades dos garotos, que participam de competições interacademias dentro de seus próprios municípios. Todos os resultados são observados. São esses torneios que definem quem será encaminhado à Eide (Escola de Iniciação Esportiva), presente em cada Estado.
Além dos resultados dessas competições, que contam com olheiros, membros das Eides definem os selecionados com os treinadores das Províncias.
A partir daí, participam de torneios de base, em diversas categorias. Até o técnico da seleção nacional costuma acompanhar algumas dessas lutas.
Alguns juvenis são escolhidos para treinar com a seleção principal na capital, Havana. E não são necessariamente os campeões dos torneios. Não é raro serem chamados até pugilistas que não medalharam, porém que apresentam maior potencial de evolução.
No alto nível, o colchão de proteção estatal se sofistica.
O número de integrantes das comissões técnicas que acompanham as seleções de Cuba, mesmo as de juvenis, supera o de boxeadores.
Roupeiros, cozinheiras e demais membros das delegações, além de executarem suas funções, registram as performances dos cubanos e as características de seus adversários para alimentar um banco de dados.
O Estado cubano intervém em todas as modalidades, porém é o boxe que é logo lembrado quando se fala da excelência esportiva do país, controlado por uma ditadura há 49 anos.
"O sangue quente do povo cubano, a tradição no país e a constituição física definem o sucesso do boxe", afirma o cubano Otílio Toledo, 46, coordenador técnico da seleção brasileira de boxe amador."
"Como não há profissionalismo em Cuba, os melhores estão concentrados na seleção nacional. Nosso Nacional é mais forte do que um Mundial. Imagine que todos os jogadores brasileiros de futebol que estão fora se reunissem para disputar o Brasileiro. Isso é uma realidade para o boxe cubano ", finaliza ele.
É nesse cenário que se originam e são mantidos os cerca de 5.000 pugilistas amadores em atividade na ilha e que geram preciosas "peças de reposição" à seleção nacional.
Desde dezembro de 2006, Cuba viu desertarem quatro ouros olímpicos e um campeão mundial -cinco medalhas quase certas em Pequim. As baixas diminuíram o favoritismo cubano, mas os substitutos classificaram dez boxeadores (de 11 possíveis) para os Jogos nos Pré-Olímpicos das Américas.
Cuba terá de superar a Rússia, atual campeã mundial, a renovação dos EUA e os países do Oriente, encabeçados pela China, o que aumentará a pressão sobre o técnico Peter Roque.
Talvez essa situação tenha sido o motivo de o governo cubano ter vetado a presença da reportagem da Folha no país.
Mesmo após cerca de dois meses de negociações em que funcionário da Embaixada de Cuba chegou a fixar data para emissão do visto, ele foi vetado sob a alegação de que a reportagem "atrapalharia a preparação da equipe olímpica".

HOMOSSEXUAL NÃO PÔDE COMPETIR FORA DO PAÍS
Uma das maiores promessas do boxe cubano na década de 70 foi um meio-médio-ligeiro, da Província de Pinar del Rio, que chegou a ser campeão nacional. Apesar disso, foi impedido de competir internacionalmente por conta de sua orientação sexual. Após a aposentadoria, virou zelador de um ginásio

CAMPEÃO MUNDIAL FEZ CAMINHO ALTERNATIVO
Manuel Mantilla, ouro no Mundial-97, não freqüentou Eide. Abandonado pelo pai e criado pela avó, nutriu fortes laços afetivos com o técnico, que preferiu mantê-lo próximo e, sob seus cuidados, finalmente chegou à seleção

Teófilo Stevenson
O cubano foi campeão dos pesados nas Olimpíadas de Munique-72, Montréal-76 e Moscou-80, esta última boicotada pelos EUA. Perdeu a chance do tetra quando Cuba boicotou Los Angeles-84 e Seul-88. Stevenson, que se aposentou em julho de 1988, aos 36 anos, recusou ofertas milionárias que o colocariam frente a frente com o campeão mundial profissional Muhammad Ali em 1978

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj0106200805.htm

Nenhum comentário: