27/06/2008 12:06:20
Márcia Pinheiro
Quando o assunto está na boca do povo ou, mais precisamente, no bolso do povo, a fumaça vira fogo. O temor da inflação voltou com armas e bagagens. Não só os alimentos têm contribuído para a alta dos índices, mas todos os chamados preços livres, aqueles não corrigidos por contratos. Em maio, os livres subiram 7,93%, no acumulado dos 12 meses anteriores, ante 5,58% do IPCA, que serve de referência para o sistema de metas de inflação. O mercado financeiro já prevê, em relatórios reservados, que a taxa deste ano vá superar o teto da meta, de 6,5%.
Olhar o IPCA detalhado traz ainda mais apreensão. Os alimentos são destaque de alta, pela perceptível escassez global. Mas há sinais de contaminação em outros preços, como no setor de serviços. Alguns exemplos corriqueiros, que constam dos hábitos de consumo da população, dão o retrato da gravidade. De janeiro a maio, o feijão-preto disparou 47%, a farinha de trigo aumentou 23% e o tomate deu um salto de 100%. Em serviços, destacam-se os preços dos ingressos de jogos (34%), aulas de balé (11%) e depilação (8%), só para citar três casos que nada têm a ver com o crescimento da China e a sua voraz demanda por commodities.
Na quarta 25, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15, que mede a variação dos preços entre 15 de maio e 15 de junho, uma espécie de trailer de como a inflação fechará o mês. O resultado foi ruim. O índice avançou 0,90%, e os produtos alimentícios, sozinhos, contribuíram com 0,51 ponto porcentual da taxa no período. Segundo o IBGE, os aumentos foram “generalizados”. Dois itens chamam a atenção no acumulado do ano. As refeições consumidas fora do domicílio avançaram 7,41% e o pão francês, 20,99%.
Em relatório a clientes, o banco BNP Paribas admite que “a deterioração da inflação está mais disseminada do que esperávamos”. Os analistas da instituição alertam para o avanço dos preços como de produtos de limpeza e despesas bancárias, por exemplo. E isso, afirmam, levará o Banco Central a ser ainda mais ortodoxo na política monetária.
Esse ponto é particularmente relevante. Pode-se conviver com um pouco mais de inflação, para não abortar um ciclo de crescimento econômico? Oficialmente, de acordo com a pesquisa semanal realizada pelo Banco Central com cerca de uma centena de instituições financeiras e consultorias, a expectativa dos economistas dos bancos é que o IPCA atinja 6,08% neste ano e recue para 4,78% em 2009. Isso porque antecipam uma tungada forte no juro. Ainda segundo essas expectativas, a taxa Selic deve atingir 14,25% em dezembro, ante os atuais 12,25%. Mas há muito peixe grande apostando em 15% ou até 16%. Tudo para frear a inflação.
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=7&i=1278
sábado, 28 de junho de 2008
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