domingo, 17 de agosto de 2008

Rússia quer seu status de potência política

17 de agosto de 2008
IGOR GIELOW SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O confronto em um canto do mundo desconhecido para muita gente tornou-se um dos principais marcos da geopolítica desde o 11 de Setembro.
A Rússia voltou ao centro do palco mundial com a rápida guerra contra a Geórgia, as potências ocidentais foram humilhadas e agora falam grosso para tentar reverter os danos políticos. O mundo tornou-se mais instável e a velha rivalidade da Guerra Fria tomou novos e perigosos contornos.
Tudo começou após meses de confronto político entre Moscou e Tbilisi. O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, aproximou-se do Ocidente mais do que o Kremlin gostaria, insinuando inclusive a entrada na Otan, a aliança militar americano-européia.
Por motivos até aqui não totalmente explicados, Saakashvili resolveu dobrar a aposta e, aceitando a provocação, atacou uma região separatista que tem o apoio de Moscou, a Ossétia do Sul. Se acreditou que o Ocidente iria mandar tropas para conter a reação russa, errou feio.
O resultado foi desastroso. Sob olhos impotentes do Ocidente, a Rússia pôs em prática uma bem planejada operação militar, que isolou as áreas separatistas da Geórgia militarmente e desarticulou as Forças Armadas de Saakashvili. A brutalidade da ação foi considerada desproporcional por quase todas as potências ocidentais, mas elas nada puderam fazer.
A Geórgia é importante corredor para acesso ao gás e petróleo do mar Cáspio, e a Europa contava com um projeto para acessá-lo e fugir da dependência da Rússia. Agora, está sem opção viável.
Os EUA, que namoraram longamente Saakashvili, endureceram o discurso e enviaram suposta ajuda humanitária, mas o estrago está feito e o regime autoritário em Moscou, mais forte do que nunca -o que não é exatamente boa notícia para o cidadão russo.
As conseqüências serão conhecidas nos próximos meses. É previsível um crescente isolamento russo, mas é possível que isto esteja nos cálculos do Kremlin também. Superpotência nuclear e energética, a Rússia agora também reclama seu status político. O mundo mudou, e mais confrontações abertas são esperadas.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/corrida/cr1708200801.htm

Nenhum comentário: