sábado, 9 de agosto de 2008

Cenas da China cotidiana

09.08.08
por Daniel Piza
Na mesa chinesa nunca se pede um prato individual ou para dois. Todos os pratos pedidos são partilhados por todos. Você vai com os palitinhos até o pedaço que quer comer e traz até seu prato ou molho. Arroz sem sal é comum em toda refeição. Frango (em centenas de modos de preparo), porco, bife e peixe se alternam no cardápio. De manhã, eles gostam de comer um macarrão bem leve, como uma sopa, ou os pasteizinhos recheados cozidos no vapor, “jiaozi” (semelhantes ao “guioza” japonês) e “baozi” (em forma de bolotas). Café, de vez em quando; chá é muito mais freqüente. Cachorro, escorpião, abelha? Essas são comidas exóticas até mesmo para eles; atraem mais a curiosidade dos turistas.
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Os chineses negociam com intensidade – ou melhor, as chinesas, que são a maioria dos vendedores. No Mercado da Seda e em feiras e lojas populares de Pequim, elas têm um leque de estratégias. Elas chamam, tentam adivinhar a origem, elogiam; têm sempre um produto ruim ao lado para mostrar como aquele que lhe oferece é bom; começam com o preço lá no alto e terminam vendendo pela metade ou menos. Mas não fazem nada disso de maneira incômoda, desagradável. São sempre gentis e sabem quando não insistir. E os preços são sempre baixos. Um belo colar de pérola com jade pode sair a 200 yuans, cerca de R$ 50.
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Motoristas dirigem afoitamente, brecando ou desviando apenas em cima da hora. Mas raramente brigam ou se olham feio no trânsito. O táxi é bem barato, menos da metade do paulistano (uma corrida de 30 minutos sai por R$ 10 mais ou menos). Mas faltaram carros para o período da Olimpíada: turistas ficam até mais de 20 minutos nas esquinas à noite à espera de um. Imagine se todos os 500 mil tivessem vindo... O metrô é muito bom: é limpo e muito fácil de usar porque acompanha a estrutura urbana (um eixo norte-sul e cinco “anéis” de avenidas). Em Pequim há muitas grandes avenidas, em geral com oito pistas; os ciclistas ainda dispõem de mais uma, além de semáforos próprios. Bicicletas são furtadas de vez em quando, mas é barato comprar uma nova: 70 yuans (R$ 17). Na maioria, porém, são bem velhas. É comum ver idosos sendo puxados por filhos ou netos, e casais de namorados indo embora na mesma.
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Chineses gostam de descansar na posição de cócoras. Pessoas de todas as idades e origens fazem isso nas avenidas mais modernas. As mulheres estão quase sempre com sombrinhas, e nas crianças elas colocam uma pequena toalha molhada na cabeça para refrescar. As adolescentes misturam camisetas com palavras em inglês e saias ou calças e tênis mais típicos, com toques delicados, às vezes infantis, como lacinhos coloridos. Os homens fumam bastante, e os mais velhos têm o hábito de cuspir (que vem sendo combatido pelo governo com placas). Todos sorriem quando você solta uma palavra em chinês (eles se referem ao mandarim, língua nacional, como chinês), não porque falou certo ou errado, mas porque isso os deixa contentes. Os mais velhos passam horas diante da TV; os mais jovens, na internet. A maioria dos chineses não quer saber de religião.
("Vista Chinesa")
http://blog.estadao.com.br/blog/piza/

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