07.09.08
Choro por ti, Argentina
por Renata Cafardo
Estive em Buenos Aires na semana passada e conheci uma escola de ensino básico em um bairro pobre da cidade. Fora a estrutura muito precária (que comentarei mais adiante neste post), o estabelecimento portenho me ensinou muito sobre a educação na Argentina. A escola, que atende cerca de mil crianças e adolescentes, não é essencialmente pública nem essencialmente privada, como temos por aqui. É mantida por uma fundação, mas os professores são pagos pelo governo e as famílias ainda contribuem com cerca de 100 pesos por mês, por aluno.
Essa forma híbrida de financiamento na educação existe também no Chile. Por conta de um seminário sobre ensino médio, promovido pelo Unicef em Buenos Aires, um pequeno grupo de jornalistas brasileiros pôde conversar com a ministra chilena da educação, Mónica Jimémez. Ela contou que o país passa atualmente por uma crise, justamente em virtude dos três modelos educacionais que coexistem no Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet.
Lá há a escola pública (sempre municipal), a particular, e a particular subsidiada. Esse terceiro tipo, que representa cerca de 50% do total, é criticado por movimentos estudantis e sindicatos de professores, que saíram às ruas para protestar nos últimos meses. A escola é uma entidade privada, mas recebe cerca de US$ 100 por aluno, por mês, do governo federal. Pais também contribuem em algumas delas.
Neste ano, o governo chileno editou um projeto de lei para tentar regulamentar esse modelo, exigindo que as instituições tenham apenas caráter educacional, apliquem seus lucros somente na escola, entre outras coisas. Os críticos, no entanto, querem o fim desse tipo de escola e defendem ensino público e gratuito para todos. A lei deve ser votada no fim do ano.
Apesar da crise, o Chile é exemplo de educação na América Latina. Seus alunos, no últimos anos, têm melhorado seus desempenhos em exames internacionais, como o Pisa. Se saem melhor que brasileiros e argentinos.
Nossos vizinhos - que tradicionalmente valorizam a cultura e a educação - infelizmente têm sofrido os efeitos da crise econômica na Argentina, que se arrasta há anos. Professores ganham menos de R$ 1 mil; escolas sofrem com o abandono e a falta de recursos.
A que visitei tinha teto com telha aparente, sem forro. Mesmo no frio de 5 graus de Buenos Aires, a sala de aula parecia um forno. Cadeiras e mesas de madeira há décadas pediam um restauro. Lousas também velhas e ainda pequenas demais. Crianças sem qualquer tipo de merenda. Choro por ti, Argentina.
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domingo, 14 de setembro de 2008
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