domingo, 28 de junho de 2009

Ícone pop foi a união entre anjo e cafetão

São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

Combinação de Brown e Wonder, vendeu 750 milhões de discos

Esquisitice crescente dos últimos anos não esconde talento do astro, que fundiu os gêneros soul, disco e novo rock, quebrando recordes


ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Michael Jackson aprendeu a cantar como um anjo e dançar como um cafetão fazendo shows em puteiros aos oito anos de idade. Levava surra do pai, Joseph, se não se apresentasse bem, se não ensaiasse o suficiente -qualquer razão era boa. Os irmãos Jackson entravam todos no couro.
Michael, o sétimo filho e óbvia estrela do grupo, apanhava mais. Na casa dos Jackson era Deus no céu -Jeová, eram Testemunhas- e Joseph na terra.
O pai tinha tentado se dar bem como artista. Acabou metalúrgico e empresário e feitor dos filhos. Devemos a esta figura detestável o maior artista que a música jamais teve. Contra números não há argumentos. São 750 milhões de discos vendidos até agora.
O Jackson 5 estreou em 1967, mas foi em 1968 que passaram a fazer parte do elenco da mais eficiente máquina de produção de hits em série da música pop.
A Motown Records foi fundada por Berry Gordy em 1959. Seu primeiro hit foi composto pelo próprio Gordy, "Money (That's What I Want)". Declaração de princípios, ou falta de. A Motown fazia qualquer coisa por um sucesso. Emplacou muitos -Supremes, Marvin Gaye, a lista é imensa.
Os primeiros singles do Jackson 5 na Motown foram "I Want You Back", "ABC", "The Love You Save" e "I'll Be There". Já mereciam os livros de história. Os programas de TV da época não mentem. Michael era endiabrado. Requebrava como James Brown, cantava como Stevie Wonder e era fofo como um anjo.
O primeiro disco solo chegou aos 17 anos, "Got to Be There".
De 1976 a 1984, Jackson seria não só o frontman do Jackson 5 -depois rebatizado como The Jacksons- mas seu principal compositor.
Em 1978, com 20 anos, Jackson encontrou uma outra figura paterna. O experiente jazzista Quincy Jones, diretor musical do filme "The Wiz" -em que Michael encarnava o Espantalho do mundo de Oz- produziria com Jackson "Off The Wall" e "Thriller". "Thriller" fez a ponte entre o soul dos 60, a disco dos 70 e o novo rock dos 80. Era new wave. Era pop.
O melhor do pop de três décadas. E popular. Vendeu entre 50 milhões e 104 milhões de cópias. O mínimo já é recorde para sempre imbatível.
Jackson tinha 37% do preço de cada disco vendido. Os anos seguintes foram de esquisitice crescente -parte marketing, parte verdadeira. Em 1987, Michael lançaria "Bad", uma tentativa de repetir "Thriller". Vendeu menos. Soava quase sempre histérico, equivocado e pior, velho. Aos 29 anos, o superastro estava ultrapassado. Era uma anedota bilionária.
O que veio depois é menos importante musicalmente. Em alguns casos, constrangedor. A música piorou. Ficou impossível dissociar Michael, o artista, de Michael, o homem cada vez mais distante de sua humanidade. Com sua morte, tudo será perdoado, como foi a seu ídolo, James Brown. Agora não é mais um slogan vazio: Michael Jackson será para sempre o rei do pop.


ANDRÉ FORASTIERI, 43, é diretor editorial da Tambor Digital.

Nenhum comentário: