segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Banquete - Platão

Não sendo deus nem tolo, ama a sabedoria. Se fosse um deus, não poderia amá-la, pois não se ama o que já se possui; se fosse tolo, julgar-se-ia perfeito e completo e não poderia desejar aquilo cuja falta não poderia notar. Eros é o desejo: carência em busca de plenitude. Eros ama. O que ama o Amor? O que dura, o perene, imortal. Ama o bem, pois amar é desejar que o bom nos pertença para sempre. Por isso, Eros cria nos corpos o desejo sexual e o desejo da procriação, que imortaliza os mortais. O que o Amor nos corpos bons? Sua beleza exterior e interior. Amando o belo exterior, Eros nos faz desejar as coisas bela; amando o belo interior, Eros nos faz desejar as almas belas.

O amor dos corpos concebe e engendra a imagem da imortalidade: os filhos, também mortais. O amor das almas belas concebe e engendra o primeiro acesso à verdadeira imortalidade: as virtudes. Os corpos mortais geram filhos mortais. As almas imortais geram virtudes imortais.
Onde reside o belo nas coisas corporais? Na perfeição de suas ações, de seus discursos e de seus pensamentos - em suas qualidades de inteligência. Assim, no coração da alma imortal anuncia-se o perfeito imperecível: a beleza do saber, a manifestação do lógos, a ciência.

Que deseja o desejo? Que ama o amor? A beleza imperecível, seu supremo e único Bem. Que é desejar-amar o Belo-Bem? Desejar possuí-lo participando de sua bondade-beleza. Como participar do objeto do desejo-amor? Pelo conhecimento. Eros é desejo de saber: filosofia *. Na contemplação da beleza-bondade - isto é, da idéia do Bem e da Beleza - os humanos alcançam a ciência ou o saber, por meio do qual concebem, engendram e dão nascimento às virtudes e através delas se tornam imortais.

Desejo de formosura - da forma bela ou da bela forma -, eis a essência de Eros. É isto que a tradição consagrou com a expressão Amor Platônico.
Marilena Chauí
www.geocities.com/amarilla11/textos/text11.html

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