domingo, 19 de abril de 2009

Muros que limitam favelas dividem opiniões no Rio

Os muros que o governo do Estado do Rio está construindo para cercar 11 favelas da zona sul dividem a cidade. Mas, desta vez, não se trata de um racha na opinião entre pobres e ricos ou entre moradores de áreas nobres e carentes.
No morro, no asfalto, em grupos de maior ou menor poder aquisitivo, o Datafolha revela que praticamente metade da população é a favor da iniciativa de cercar as favelas, enquanto a outra metade se opõe.
O argumento do Estado é de que é preciso conter a expansão de moradias irregulares em áreas de vegetação e que o objetivo da construção não é segregar os moradores de favelas.A medida, no entanto, causou polêmica. Até o escritor português José Saramago criticou a iniciativa em seu blog, comparando os muros do Rio aos de Berlim e Palestina.
Na pesquisa, 47% dos cariocas posicionaram-se a favor da construção dos muros. Outros 44% declararam-se contrários. Foram feitas 644 entrevistas.
Como a margem de erro da pesquisa -que foi a campo entre os dias 8 e 9 deste mês- é de quatro pontos percentuais, trata-se de um empate técnico. O empate técnico persiste até quando se investiga a opinião apenas de moradores de favelas, com 47% apoiando a iniciativa e 46% contrários.
O mesmo se verifica no caso dos que vivem longe de favelas (44% a favor e 46% contra). Apenas entre os moradores de áreas próximas a favelas há uma diferença maior de opinião, mesmo assim, de apenas dez pontos percentuais (50% favoráveis e 40% contrários).No morro Dona Marta, uma das favelas que ganhará muros, as opiniões também se dividem. "Se você perguntar ao morador aqui, ele nem sabe onde está esse muro. Para nós é indiferente", diz José Mário Hilário, presidente da associação dos moradores.Já Juan Silva, também morador, tem posição mais crítica. "O muro não foi proposto pelos moradores, foi imposto."
O morro Dona Marta é vizinho de uma floresta.Ricos e pobres
A análise dos números do Datafolha pelo recorte de renda mostra que, entre os mais ricos (renda mensal familiar superior a dez salários mínimos), o percentual dos que se declararam contra o muro (50%) é maior que o verificado entre mais pobres (39%), que recebem até dois salários mínimos.
Os cariocas só começam a mostrar mais concordância quando confrontados com algumas afirmações a respeito do resultado prático da construção dos muros.
Para 67%, eles vão ajudar a conter a expansão de moradias irregulares em áreas de vegetação. Também 60% dizem discordar da afirmação de que eles separarão ricos e pobres.
Para construir os muros, o governo prevê inicialmente investir R$ 40 milhões para erguer 11 quilômetros de paredões, de três metros de altura, em 11 favelas da zona sul, a área mais nobre da cidade.
O governador Sérgio Cabral ainda não falou publicamente sobre o assunto desde que ele veio à tona. Pouco mais de 50 metros dos 634 previstos já foram erguidos no morro Dona Marta, em Botafogo, ao longo de aproximadamente um mês.
Todas as áreas escolhidas, conforme levantamento do Instituto Pereira Passos, cresceram, em área, abaixo da média em comparação às demais comunidades.No Dona Marta, por exemplo, houve redução de 0,99% do terreno ocupado. O governo estadual alega que, apesar da estabilidade da ocupação dessas favelas, é preciso evitar que os moradores ergam construções em áreas de risco.

FSP, 13/04/2009

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