quarta-feira, 21 de abril de 2010

Textos 3º ano

Em 1896, Nina Rodrigues, famoso médico da escola tropicalista baiana, defendia na "Gazeta Médica da Bahia" a seguinte tese: "Individualmente sob certos aspectos dois homens poderão ser considerados iguais: jamais o serão porém se se atender às funções fisiológicas. Conferir ao indivíduo uma liberdade sem limitações é um exagero da demagogia, é uma aberração da utilidade pública." Opondo-se à idéia do livre-arbítrio, presente no código da jovem República, Rodrigues passava a defender não só a concepção da "responsabilidade atenuada", como a diferença natural entre as raças.

Na verdade, o médico baiano, para além de advogar a superioridade de sua profissão frente aos juristas - afinal tratava-se de uma sociedade miscigenada e, na sua opinião, doente -1, fazia coro às teorias da época que, seguindo máximas do determinismo racial e geográfico, não só estabeleciam desigualdades ontológicas entre os grupos etnológicos, como condenavam abertamente o cruzamento de espécies.

Era essa a opinião de teóricos como Taine e Le Bonn, sem esquecer do Conde Arthur de Gobineau, que concebeu suas teorias raciais quando de sua estada no país como representante francês, em meados do século. Conhecidos como teóricos do poligenismo, ou simplesmente como darwinistas sociais, esses pensadores procuravam traçar paralelos com a teoria de Darwin, no que se refere às sociedades. A máxima era supor que o que valia para a natureza, valia para os homens, e que desigualdades sociais e políticas não passavam de diferenças biológicas e naturais. Em outros termos, tratava-se, sempre, de uma questão de adaptação ao meio: a superioridade da raça branca estaria comprovada por sua supremacia política, mas referida à sua" evidente" capacidade física e moral.2

No entanto, se para esses teóricos, das raças puras sabia-se o que esperar (já que o suposto era que a humanidade dividia-se entre superiores e inferiores), mais difícil era lidar com a mestiçagem, considerada sempre como um fator de desequilíbrio e de degeneração. O que se dizia é que entre o mestiço e o branco haveria, nessa perspectiva, a mesma distância que separava o asno do cavalo, já que esses "elementos cruzados" corporificariam o resultado da união entre espécies por demais distintas entre si.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Dos Males da Medida. Psicol. USP,  São Paulo, v. 8, n. 1, 1997.   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010365641997000100003&lng=en&nrm=iso


 

"Racismo é, então[...], aquele comportamento por meio do qual uma pessoa ou um grupo de pessoas manifesta uma idéia preconcebida ─ ou seja, um preconceito ─ contra um ou vários indivíduos pertencentes a um grupo de origem diferente e em geral considerada inferior. Observemos aqui que, em inglês, a palavra correspondente a "preconceito" é prejudice. E que o elemento "judice" presente nela significa "julgamento". Então, o preconceito é um prejulgamento, ou seja: é um juízo, um julgamento que se faz antecipadamente, precipitado, pela aparência, sem que se conheça a essência de alguém, de um grupo ou mesmo de um objeto.
E o filósofo francês Voltaire, no dicionário que publicou em 1764, ainda foi mais longe. Para ele, "o preconceito é uma opinião sem julgamento".

A origem de todo racismo é, então, o preconceito. [...]

O indivíduo racista parte de uma idealização de si mesmo para desvalorizar a pessoa ou grupo que ele considera inferior. Essa idealização resulta de uma impressão mental fixa, numa opinião preconcebida, derivada não de uma avaliação espontânea e sim de julgamentos repetidos rotineiramente. Aí, nesses julgamentos, o racista atribui, por suposição, características pessoais e de comportamento invariáveis a todos os membros de determinado grupo de pessoas.[...]

O estereótipo é uma espécie de fotografia que nossa imaginação faz. É uma idéia preconceituosa, uma suposição, que se cria, de um grupo de pessoas, a partir do comportamento de um ou mais indivíduos daquele grupo. [...]

Vamos ver também que existem várias formas e manifestações de racismo, desde o preconceito, que é apenas um julgamento; passando pela discriminação, que é a forma de tratamento desigual, pela segregação, que é a separação física de grupos, baseada no racismo; passando também pelo molestamento, que é a agressão física por motivos "raciais"; e podendo chegar ao extremo do genocídio.

LOPES, Nei. O racismo explicado aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007

"Simbá, o marujo, conseguindo chegar à margem do rio, avistou montanhas cobertas de bosques compactos e, no meio de um vale, uma bela e grande cidade cujos monumentos lhe pareceram numerosos e imponentes. Ele se dirige até a cidade, e qual não é sua surpresa quando percebe que a multidão de gente, que de longe parecia povoar as ruas, era, na verdade, uma multidão de macacos! Havia grandes e pequenos, novos e velhos; mas todos eram macacos extremamente feios, fazendo caretas atrozes e circulando de um lado para o outro, uns apressados, outros, não; todos lúgubres. Depois de muito andar a esmo de um lado para o outro, Simbá chegou, enfim, ao alto de um bairro, onde avistou um grande palácio que julgou ser o do Rei deste povo; e, entrando nos pátios onde os macacos que passeavam nada fizeram para prendê-lo, penetrou nos apartamentos, e depois de atravessar várias galerias teve uma agradável surpresa, ao ouvir o som de uma voz humana; e, de fato, dirigindo-se para o lado de onde vinha a voz, entrou numa sala e viu, finalmente, um homem! E este homem lia o Alcorão. De modo que não apenas encontrara um ser de sua espécie, mas um ser com quem podia se entender. [...]

Suponho, madrinha, que com a aguda inteligência que a distingue... você adivinhou que Simbá estava no Brasil, que os macacos eram os brasileiros e que o rei era o Imperador."

"Nenhum brasileiro é de sangue puro; as combinações dos casamentos entre brancos, indígenas e negros multiplicaram-se a tal ponto que os matizes da carnação são inúmeros, e tudo isso produziu, nas classes baixas e nas altas, uma degenerescência do mais triste aspecto".

RAEDERS, George. O inimigo cordial do Brasil: o Conde de Gobineu no Brasil. Trad. Rosa Freire

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Joseph Arthur de Gobineau (Ville-d'Avray, 1816 — Turim, 1882) foi um diplomata, escritor e filósofo francês. Um dos mais importantes teóricos do racismo no século XIX. Segundo ele, a mistura de raças era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência física e intelectual. É-lhe atribuída a frase "Não creio que viemos dos macacos mas creio que vamos nessa direção".


 

"Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos."

"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!"

KING, Martin Luther

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Martin Luther King, Jr. (1929-1968) foi um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes do activismo pelos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1964.

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