quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dinâmica do abrigo nuclear

É uma apresentação, e não consigo colocar o gadget aqui sem interferir na estrutura da página. Se alguém souber, por favor, me ensine. Essa aqui é bem mais simples. Sorry.

Quem deve ser levado para um abrigo subterrâneo?

Imaginem que nossa cidade está sob ameaça de um bombardeio. Aproxima-se um homem e lhes solicita uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode acomodar seis pessoas. Mas 12 pretendem entrar.
Abaixo, há uma relação das 12 pessoas interessadas a entrar no abrigo. Faça sua escolha, destacando apenas seis delas:

( ) Um violinista, com 40 anos, narcótico viciado.
( ) Um advogado, com 25 anos.
( ) A mulher do advogado, com 24 anos, que acaba de sair do manicômio. Ambos preferem ou ficar juntos no abrigo, ou fora dele.
( ) Um sacerdote com 75 anos.
( ) Uma prostituta, com 34 anos.
( ) Um ateu com 20 anos, autor de vários assassinatos.
( ) Uma universitária que fez voto de castidade.
( ) Um físico, 28 anos, que só aceita entrar no abrigo se puder levar consigo uma arma.
( ) Um declamador fanático, com 21 anos.
( ) Uma menina de 12 anos, e baixo Q.I.
( ) Um homossexual, com 47 anos.
( ) Um excepcional, com 32 anos, que sofre de ataques epilépticos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Prova 3º ano


Turma,

Na minha postagem tá faltando o quadrinho no número 4. Não consigo postar na ordem (aahhhhhh... preciso urgente fazer um curso sobre web). Escolham se querem ver como pdf. É a prova de redação. Só q não vale a narração, só pode ser artigo de opinião ou carta.

http://docs.google.com/fileview?id=0B8b0gwHmE8d2YWRlZWFlNzAtYTllZC00MTE5LTkwMTktYjQ3ZmYzZGI3NmZm&hl=en

http://www.ifgoias.edu.br/selecao/...2/prova%20-%20vestibular%202009-2.pdf


Avaliação de Filosofia

(CEFET-GO/2009-2) REDAÇÃO

*Nota da organizadora • Será atribuída nota zero se a redação fugir ao tema proposto; se o candidato utilizar apenas alguma palavra ou expressão referente ao tema, mas sem a articulação de ideias que configurem o seu desenvolvimento; se o texto for considerado caótico, comprometendo o seu sentido. Também serão eliminados os candidatos cujo aproveitamento seja inferior a 30 pontos ou aqueles que apresentarem qualquer tipo de identificação na Folha de Redação.

Tema: Trotes em universidades: os limites entre o rito de passagem e as brincadeiras de mau gosto.

COLETÂNEA

1. Raspar o cabelo de um calouro e chamá-lo de "bicho" pode parecer uma parte inofensiva do "trote" nas universidades de hoje, mas remete a uma tradição de humilhação que se inicia na era medieval, afirmam pesquisadores. Ninguém sabe exatamente quando ocorreu o primeiro trote, mas é certeza que foi antes de as universidades serem chamadas de "universidades". "As universidades medievais se formaram como apêndices da Igreja, quase como departamentos da Igreja Católica", explica Glauco Mattoso, autor do livro "O calvário dos carecas", de 1985, que conta como surgiu o trote.[...] Nessa época, o conhecimento era completamente restrito ao ambiente universitário. "Na Idade Média, todo mundo era analfabeto. Isso é antes do surgimento da imprensa, então os livros eram todos escritos à mão e muito raros. Era caro estudar. Quando alguém entrava em uma universidade, era um privilégio", explica o pesquisador. "Os alunos que já estavam na faculdade viam o novato como um verdadeiro bicho do mato. É daí que vem a ideia de chamar calouros de 'bichos'", conta Mattoso.

(Fonte: http://www.g1.globo.com./sites/especiais/noticias)


2. "Qual é mesmo a Idade das Trevas"?

Por Marcos Guterman, Seção: Zeitgeist, História 00:31:06

Veterano faz calouro da PUC-SP se embriagar: iniciação à barbárie.


As cenas deprimentes dos trotes universitários deste ano me fizeram lembrar de "Os Intelectuais na Idade Média", livro do historiador francês Jacques Le Goff em que ele analisa como começou essa tradição na Europa, no século 14. Lá pelas tantas, ele escreve: "A iniciação de um novato é descrita como uma cerimônia de 'purgação', destinada a despojar o adolescente do seu jeito rústico, até mesmo xucro. Ironizam-se seu cheiro de animal selvagem, seu olhar desvairado, suas orelhas compridas, seus dentes parecidos com presas. Arrancam-lhe chifres e excrescências imaginárias. Lavam-no, dão-lhe um polimento nos dentes. Numa paródia de confissão, ele revela, por fim, seus vícios extraordinários. Desse modo o futuro intelectual abandona sua condição original, que se parece muito à do camponês, do rústico da literatura satírica da época. Da animalidade à humanidade, da rusticidade à urbanidade, essas cerimônias em que o velho fundo primitivo aparece deturpado e quase esvaziado de seu conteúdo original lembram que o intelectual foi arrancado do clima rural, da civilização agrária, do mundo selvagem da terra." Como se nota, na chamada "Idade das Trevas", o calouro era visto como um animal a ser humanizado. No século 21, parece ocorrer justamente o inverso.

(Fonte: http://blog.estadão.com.br)


Comentário de: Edgard Benozatti [Visitante] adaptado.

11.02.09 @ 16:48

Professor, o que realmente assusta não é ver jovens recém-ingressos na faculdade querendo se divertir e se confraternizar com os colegas com os quais vão conviver pelos próximos 4 anos, o que me assusta, caro professor, é essa onda do "politicamente correto", a qual atinge até as pessoas que eu tinha na mais alta estima intelectual, como você, querido professor. Jovens gostam de beber, meu caro, nós queremos forçar nossos limites ao máximo e viver intensamente. Se existe algum período em nossa existência em que nosso bem-estar vai ficar em segundo lugar, esse período é a faculdade, justamente nos nossos 20 e poucos anos. Compreendo que é o papel de alguns tentar impor limites aos que querem acabar com eles, porém, caro professor, não venha culpar uma tradição que visa à diversão e a criar vínculos entre os recém-ingressos na faculdade e os que nela já estão. Se você deseja culpar alguém por este sentimento de insegurança e revolta que lhe invadiu ao ver calouros sendo pintados e embriagados, culpe apenas o espírito da juventude.

Comentário de:Adriano Axel [Visitante] adaptado.

13.02.09@ 09:37

Gostaria apenas de fazer um apelo a todos, ao Guterman e aos leitores deste blog, para que deixassem a crítica emotiva de lado e dessem um pouco de atenção a ponderações mais cuidadosas. Bixos que são pintados, por exemplo, numa situação normal não são apenas "pintados" como animais sob tratamento industrial. Estão felizes por comemorarem uma conquista pessoal e, ao mesmo tempo, estão dividindo essa comemoração com futuros amigos veteranos. Em termos de ritual, a informalidade da pintura funciona como uma espécie de catalizador da aproximação veterano-bixo.

3. [...] posso dizer, convictamente, que trote que respeita a vontade do bixo não é considerado trote. O gostoso, o excitante, o gerador de adrenalina é a subjugação do calouro pelo veterano. Devido a isto, acredito que as propostas de trote-cidadão (do tipo ações solidárias e/ou educativas como coletar lixo, pintar escolas, doar sangue, etc) estão fadadas ao insucesso, podendo mesmo serem transformadas em trotes tradicionais, caso haja subjugação em suas realizações [...] Penso que o trote habital (excluído os definidos como aberrantes) está aí presente e sob a anuência das instituições universitárias. É necessária maior definição para a sua abordagem no próximo ano: ou continua liberado ou se cria um meio termo, porque o limite entre o trote integrador-brincadeira e o trote abusivo é muito tênue e variável de pessoa para pessoa, não dá para ser objeto de um acordo entre os veteranos.

(Fonte: http://www.interface.org.br/revista5/debates4)


4.


5. Depois da alegria de ter passado no vestibular, o medo. A satisfação por ver que meses de estudo e dedicação haviam dado bons frutos convive com a preocupação com o trote, ritual de iniciação à vida universitária que não raro ganha as manchetes de jornais pelas suas características violentas. Foi esse o sentimento que tomou conta de Ana Cláudia Reis quando recebeu a notícia de que ingressaria no curso superior de Administração. Entretanto, o trote acabou sendo uma surpresa positiva para Ana Cláudia. Ela foi convidada pela comissão organizadora da recepção aos calouros das Faculdades Ibmec, em São Paulo, a participar de atividades recreativas em uma creche da cidade. "Eu me perguntava o que os veteranos iam fazer com a gente, se haveria brincadeiras de mau gosto", lembra. "Mas quando soube que o trote seria solidário, foi um alívio instantâneo." A experiência foi tão boa que hoje, três anos depois, ela é uma das responsáveis pela coordenação da recepção aos calouros da faculdade.

(Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=3869)


6. O estudante Bruno César Ferreira, de 21 anos, vítima de agressão na segunda-feira, 9, durante trote do curso de medicina veterinária da Anhanguera Educacional, em Leme, disse que a única certeza que tem em relação ao seu futuro, como estudante, é de que não volta para a universidade na qual sofreu maus tratos. "Para lá eu não volto. Eles estão educando vândalos, não futuros profissionais. Tenho medo de ser reprimido.[...] Cheguei às 7 horas, entrei e lá pelas 8 horas fui ver os valores das mensalidades na secretaria. Quando saí, um veterano me pediu para tirar a camiseta, boné, meus pertences. Achei que ia raspar minha cabeça e me pintar, até aí tudo bem. Mas foi bem mais que isso, porque fizeram a gente (calouros) entrar em uma lona na qual tinha excremento de animais e aves em decomposição. Pensei: se isso representa a medicina veterinária, perdi a vontade", conta o estudante agredido.

(SIMIONATO. Maurício. Aluno diz que foi chicoteado durante trote. Folha de S.Paulo, 11 fev. 09. Cotidiano C1. adaptado)


7. Era hora de descanso, passeávamos, conversando. Falamos dos colegas. Vi, então, de dentro da brandura patriarcal do Rabelo, descascar-se uma espécie de inesperado Tersito, produzindo injúrias e maldições. "Uma cáfila! Uma corja! Não imagina, meu caro Sérgio. Conte como uma desgraça ter de viver com esta gente." E esbeiçou um lábio sarcástico para os rapazes que passavam. "Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos! Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada da pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios da bandalheira! Fuja deles, fuja deles. Cheiram a corrupção, empestam de longe. Corja de hipócritas! Imorais! Cada dia de vida tem-lhes vergonha de véspera".[...] "Viu aquele da frente, que gritou calouro? Se eu dissesse o que se conta dele... aqueles olhinhos úmidos de Senhora das Dores... olhe; um conselho: faça-se aqui, faça-se homem. Os fracos perdem-se. Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. Não sou criança, nem idiota; vivo só e vejo de longe; mas vejo. Não pode imaginar. Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais, pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, estão perdidos... faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores."

(POMPÉIA, Raul. O Ateneu. Porto Alegre: L&PM. 1999)


Proposta 1 – Carta de leitor


A carta de leitor é um gênero que atende a diversos propósitos comunicativos, como opinar, elogiar, reclamar, reivindicar, entre outros. Encontrada frequentemente no meio jornalístico, a carta de leitor apresenta uma opinião sobre determinado assunto lido nos periódicos. A argumentação e a interlocução presentes nesse texto têm por finalidade convencer o interlocutor sobre determinado ponto de vista.

Suponha que você seja o pai ou a mãe de um calouro universitário que tenha vivido um trote. Diante de tantas reportagens lidas sobre a temática Trote em universidades: os limites entre o rito de passagem e as brincadeiras de um gosto, você queira posicionar-se sobre a experiência vivida por seu filho, dialogando com o jornal ou revista por meio de uma carta de leitor. Considere as ideias contidas nos textos presentes na coletânea como argumentos e contra-argumentos de sua carta. Apesar de ser uma carta de leitor, você não deve assiná-la.


Proposta 2 – Artigo de opinião


O artigo de opinião é um texto de caráter jornalístico que traz a interpretação, análise ou opinião do articulista sobre determinado fato, assunto ou tema de relevância, de forma a convencer o leitor a aceitar uma ideia, mudar uma atitude e adotar uma postura.

Escreva um artigo de opinião para um jornal local, discutindo, a partir de fatos mais recentes, a sua concepção acerca do questionamento expresso no tema: Trote em universidades: os limites entre o rito de passagem e as brincadeiras de mau gosto. Lembre-se de que os argumentos e contra-argumentos serão fundamentais para permitir a construção de uma análise crítica dos dados obtidos na coletânea, bem como a interpretação das ideias nela contidas.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Textos 3º ano

Demétrio Magnoli    . Você acredita em raças?

A Suprema Corte dos EUA estabeleceu, semanas atrás, por estreita maioria, que os direitos dos cidadãos não podem se sujeitar a critérios raciais. Mas as opiniões dos juízes da maioria e da minoria não contestaram o princípio de fundo, de que as pessoas podem ser classificadas pela pertinência a um grupo racial. A exceção apareceu na opinião do juiz Anthony Kennedy, que escreveu: "Quem exatamente é branco e quem é não-branco? Ser forçado a viver sob um rótulo racial oficial é inconsistente com a dignidade dos indivíduos na nossa sociedade."

A nação americana elaborou sua identidade através das lentes do conceito de melting pot: o caldo de componentes diversos, que se misturam mas jamais se fundem. Depois de abolida a escravidão, as leis de segregação reafirmaram a fronteira entre brancos e negros, colocando o problema de definir a raça de cada um. A regra da "gota de sangue única" forneceu a solução: para ser negro, basta um só antepassado negro. Nos EUA, essa experiência histórica converteu a raça num fenômeno natural, como os rios, as montanhas e as estrelas.

O Brasil não produziu leis raciais desde a Abolição, o que nos libertou do problema de associar cada pessoa a um grupo de raça. A identidade nacional foi elaborada em torno do conceito de mestiçagem. Essa experiência coagulou-se na aquarela brasileira, composta por um continuum de cores sem fronteiras nítidas, que se traduz na linguagem do censo pela ambígua categoria dos "pardos". Do ponto de vista científico, o Brasil está certo e os EUA, errados. A investigação genética comprova que a humanidade não se divide em raças.

Duas obras recentes oferecem uma visão dessas investigações de ponta. Em Genes, povos e línguas (Companhia das Letras, 2000), Luigi Cavalli-Sforza, que dirigiu o Projeto da Diversidade do Genoma Humano, delineia uma "geografia gênica", reconstruindo as migrações que difundiram os seres humanos pelo planeta. Em A invenção das raças (Contexto, 2007), Guido Barbujani, um dos mais destacados geneticistas contemporâneos, desmonta o mito das raças e esclarece o sentido do conceito de diversidade humana. Todas as populações atuais da Europa, Ásia, América e Oceania originaram-se dos grupos humanos que deixaram a África recentemente, entre 100 mil e 50 mil anos atrás, e representam subconjuntos do patrimônio genético africano. A diversidade é mais forte na África e diminui em relação direta com o afastamento da África. Somos todos afrodescendentes.

O voto de Kennedy é um sinal de que, na "pátria das raças", procura-se acertar o passo entre a política e a ciência. Enquanto isso, o Estado brasileiro entrega-se à operação inversa, investindo contra nossa experiência histórica para substituí-la pelo dogma da raça. O MEC obrigou as escolas a associar nominalmente cada aluno a um grupo racial. O Ministério da Saúde, por meio das carteiras do SUS, prega um rótulo racial a cada usuário do sistema público de saúde. Nas palavras de Kennedy, "é um rótulo que um indivíduo é impotente para mudar!".

Correio Geográfico - Agosto 2007 - Número 18 - Projeto de Ensino de Geografia

Textos 3º ano

Em 1896, Nina Rodrigues, famoso médico da escola tropicalista baiana, defendia na "Gazeta Médica da Bahia" a seguinte tese: "Individualmente sob certos aspectos dois homens poderão ser considerados iguais: jamais o serão porém se se atender às funções fisiológicas. Conferir ao indivíduo uma liberdade sem limitações é um exagero da demagogia, é uma aberração da utilidade pública." Opondo-se à idéia do livre-arbítrio, presente no código da jovem República, Rodrigues passava a defender não só a concepção da "responsabilidade atenuada", como a diferença natural entre as raças.

Na verdade, o médico baiano, para além de advogar a superioridade de sua profissão frente aos juristas - afinal tratava-se de uma sociedade miscigenada e, na sua opinião, doente -1, fazia coro às teorias da época que, seguindo máximas do determinismo racial e geográfico, não só estabeleciam desigualdades ontológicas entre os grupos etnológicos, como condenavam abertamente o cruzamento de espécies.

Era essa a opinião de teóricos como Taine e Le Bonn, sem esquecer do Conde Arthur de Gobineau, que concebeu suas teorias raciais quando de sua estada no país como representante francês, em meados do século. Conhecidos como teóricos do poligenismo, ou simplesmente como darwinistas sociais, esses pensadores procuravam traçar paralelos com a teoria de Darwin, no que se refere às sociedades. A máxima era supor que o que valia para a natureza, valia para os homens, e que desigualdades sociais e políticas não passavam de diferenças biológicas e naturais. Em outros termos, tratava-se, sempre, de uma questão de adaptação ao meio: a superioridade da raça branca estaria comprovada por sua supremacia política, mas referida à sua" evidente" capacidade física e moral.2

No entanto, se para esses teóricos, das raças puras sabia-se o que esperar (já que o suposto era que a humanidade dividia-se entre superiores e inferiores), mais difícil era lidar com a mestiçagem, considerada sempre como um fator de desequilíbrio e de degeneração. O que se dizia é que entre o mestiço e o branco haveria, nessa perspectiva, a mesma distância que separava o asno do cavalo, já que esses "elementos cruzados" corporificariam o resultado da união entre espécies por demais distintas entre si.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Dos Males da Medida. Psicol. USP,  São Paulo, v. 8, n. 1, 1997.   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010365641997000100003&lng=en&nrm=iso


 

"Racismo é, então[...], aquele comportamento por meio do qual uma pessoa ou um grupo de pessoas manifesta uma idéia preconcebida ─ ou seja, um preconceito ─ contra um ou vários indivíduos pertencentes a um grupo de origem diferente e em geral considerada inferior. Observemos aqui que, em inglês, a palavra correspondente a "preconceito" é prejudice. E que o elemento "judice" presente nela significa "julgamento". Então, o preconceito é um prejulgamento, ou seja: é um juízo, um julgamento que se faz antecipadamente, precipitado, pela aparência, sem que se conheça a essência de alguém, de um grupo ou mesmo de um objeto.
E o filósofo francês Voltaire, no dicionário que publicou em 1764, ainda foi mais longe. Para ele, "o preconceito é uma opinião sem julgamento".

A origem de todo racismo é, então, o preconceito. [...]

O indivíduo racista parte de uma idealização de si mesmo para desvalorizar a pessoa ou grupo que ele considera inferior. Essa idealização resulta de uma impressão mental fixa, numa opinião preconcebida, derivada não de uma avaliação espontânea e sim de julgamentos repetidos rotineiramente. Aí, nesses julgamentos, o racista atribui, por suposição, características pessoais e de comportamento invariáveis a todos os membros de determinado grupo de pessoas.[...]

O estereótipo é uma espécie de fotografia que nossa imaginação faz. É uma idéia preconceituosa, uma suposição, que se cria, de um grupo de pessoas, a partir do comportamento de um ou mais indivíduos daquele grupo. [...]

Vamos ver também que existem várias formas e manifestações de racismo, desde o preconceito, que é apenas um julgamento; passando pela discriminação, que é a forma de tratamento desigual, pela segregação, que é a separação física de grupos, baseada no racismo; passando também pelo molestamento, que é a agressão física por motivos "raciais"; e podendo chegar ao extremo do genocídio.

LOPES, Nei. O racismo explicado aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007

"Simbá, o marujo, conseguindo chegar à margem do rio, avistou montanhas cobertas de bosques compactos e, no meio de um vale, uma bela e grande cidade cujos monumentos lhe pareceram numerosos e imponentes. Ele se dirige até a cidade, e qual não é sua surpresa quando percebe que a multidão de gente, que de longe parecia povoar as ruas, era, na verdade, uma multidão de macacos! Havia grandes e pequenos, novos e velhos; mas todos eram macacos extremamente feios, fazendo caretas atrozes e circulando de um lado para o outro, uns apressados, outros, não; todos lúgubres. Depois de muito andar a esmo de um lado para o outro, Simbá chegou, enfim, ao alto de um bairro, onde avistou um grande palácio que julgou ser o do Rei deste povo; e, entrando nos pátios onde os macacos que passeavam nada fizeram para prendê-lo, penetrou nos apartamentos, e depois de atravessar várias galerias teve uma agradável surpresa, ao ouvir o som de uma voz humana; e, de fato, dirigindo-se para o lado de onde vinha a voz, entrou numa sala e viu, finalmente, um homem! E este homem lia o Alcorão. De modo que não apenas encontrara um ser de sua espécie, mas um ser com quem podia se entender. [...]

Suponho, madrinha, que com a aguda inteligência que a distingue... você adivinhou que Simbá estava no Brasil, que os macacos eram os brasileiros e que o rei era o Imperador."

"Nenhum brasileiro é de sangue puro; as combinações dos casamentos entre brancos, indígenas e negros multiplicaram-se a tal ponto que os matizes da carnação são inúmeros, e tudo isso produziu, nas classes baixas e nas altas, uma degenerescência do mais triste aspecto".

RAEDERS, George. O inimigo cordial do Brasil: o Conde de Gobineu no Brasil. Trad. Rosa Freire

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Joseph Arthur de Gobineau (Ville-d'Avray, 1816 — Turim, 1882) foi um diplomata, escritor e filósofo francês. Um dos mais importantes teóricos do racismo no século XIX. Segundo ele, a mistura de raças era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência física e intelectual. É-lhe atribuída a frase "Não creio que viemos dos macacos mas creio que vamos nessa direção".


 

"Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos."

"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!"

KING, Martin Luther

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Martin Luther King, Jr. (1929-1968) foi um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes do activismo pelos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1964.

Textos 3º ano

CHAUÍ, Marilena. Contra a violência

1. Ética, violência e racismo

Numa perspectiva geral, podemos dizer que a ética procura definir, antes de mais nada, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto de noções (ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considere ética. O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz, e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada pelas idéias de bom e mau, justo e injusto, virtude e vício, isto é, por valores cujo conteúdo pode variar de uma sociedade para outra ou na história de uma e mesma sociedade, mas que propõem sempre uma diferença intrínseca entre condutas, segundo o bem, o justoo virtuoso. Assim, uma ação só será ética se for consciente, livre e responsável e só será virtuosa se for realizada em conformidade com o bom e o justo. A ação ética só é virtuosa se for livre e só será livre se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior ao próprio agente e não vier da obediência a uma ordem, a um comando ou a uma pressão externos. Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do agente e se o agente respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade. A ética não é um estoque de condutas e sim uma práxis que só existe pela e na ação dos sujeitos individuais e sociais, definidos por formas de sociabilidade instituídos pela ação humana em condições históricas determinadas.

A ética se opõe à violência, palavra que vem do latim e significa: 1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar);2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar);3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar);4) todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma sociedade define como justas e como um direito;5) conseqüentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror.

A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, voluntário, livre e responsável, tratá-lo como se fosse desprovido de razão, vontade, liberdade e responsabilidade é tratá-lo não como humano e sim como coisa, fazendo-lhe violência nos cinco sentidos em que demos a esta palavra. É sob este aspecto (entre outros, evidentemente), que o racismo é definido como violência. Não é demais lembrar quando essa idéia aparece.

De fato, não se sabe muito bem qual é a origem da palavra "raça" - os antigos gregos falavam em etnia e genos, os antigos hebreus, em povo, os romanos, em nação;e essas três palavras significavam o grupo de pessoas descendentes dos mesmos pais originários. Alguns dicionários indicam que, no século XII, usava-se a palavra francesa "haras" para se referir à criação de cavalos especiais e pode-se supor que seu emprego se generalizou para outros animais e para vegetais, estendendo-se depois aos humanos, dando origem à palavra "raça". Outros julgam que a palavra se deriva de um vocábulo italiano, usado a partir do século XV, "razza", significando espécie animal e vegetal e, posteriormente, estendendo-se para as famílias humanas, conforme sua geração e a continuidade de suas características físicas e psíquicas (ou seja, ganhando o sentido das antigas palavras etnia, genos e nação). Quando, no século XVI, para seqüestrar as fortunas das famílias judaicas da Península Ibérica, a fim de erguer um poderio náutico para criar impérios ultramarinos, a Inquisição inventou a expressão "limpeza de sangue", significando a conversão dos judeus ao cristianismo. Com isso, a distinção religiosa, que separava judeus e cristãos, recebeu pela primeira vez um conteúdo étnico.

É interessante observar, porém, que a palavra "racial" surge apenas no século XIX, particularmente com a obra do francês Gobineau, que, inspirando-se na obra de Darwin, introduziu formalmente o termo "raça" para combater todas formas de miscigenação, estabelecendo distinções entre raças inferiores e superiores, a partir de características supostamente naturais. E, finalmente, foi apenas no século XX que surgiu a palavra "racismo", que, conforme Houaiss, é uma crença fundada numa hierarquia entre raças, uma doutrina ou sistema político baseado no direito de uma raça, tida como pura e superior, de dominar as demais. Com isso, o racismo se torna preconceito contra pessoas julgadas inferiores e alimenta atitudes de extrema hostilidade contra elas, como a separação ou o apartamento total - o apartheid - e a destruição física do genos, isto é, o genocídio.

Seja no caso ibérico, seja no da colonização das Américas, seja no de Gobineau, seja no do apartheid, no do genocídio praticado pelo nazismo contra judeus, ciganos, poloneses e tchecos, ou o genocídio atual praticado pelos dirigentes do Estado de Israel contra os palestinos, a violência racista está determinada historicamente por condições materiais, isto é, econômicas e políticas. Em outras palavras, o racismo é uma ideologia das classes dominantes e dirigentes, interiorizada pelo restante da sociedade.

Ora, o fato de que no Brasil não tenha havido uma legislação apartheid, nem formas de discriminação como as existentes nos Estados Unidos, e que tenha havido miscigenação em larga escala, faz supor que, entre nós, não há racismo. O fato de que tenha sido necessária a promulgação da Lei Afonso Arinos e que o racismo tenha sido incluído pela Constituição de 1988 entre os crimes hediondos, deve levar-nos a tratar a suposição da inexistência do racismo num contexto mais amplo, qual seja, no de um mito poderoso, o da não-violência brasileira. Trata-se da imagem de um povo ordeiro, pacífico, generoso, alegre, sensual, solidário que desconhece o racismo, o sexismo, o machismo e o preconceito de classe, que respeita as diferenças étnicas, religiosas e políticas, não discrimina as pessoas por sua posição econômico-social nem por suas escolhas sexuais, etc.

http://www.pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=5816&Itemid=239

Vídeos 2º ano


Textos 2º ano

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo.

O que é o existencialismo?[...]

O que torna as coisas complicadas é a existência de dois tipos de existencialistas: por um lado, os cristãos [...] e, por outro, os ateus [...]. O que eles têm em comum é simplesmente o fato de todos considerarem que a existência precede a essência, ou, se se preferir, que é necessário partir da subjetividade. O que significa isso exatamente?

Consideremos um objeto fabricado, como, por exemplo, um livro ou um corta-papel; esse objeto foi fabricado por um artífice que se inspirou num conceito; tinha, como referencias, o conceito de corta-papel assim como determinada técnica de produção, que faz parte do conceito e que, no fundo, é uma receita. Desse modo, o corta-papel é, simultaneamente, um objeto que é produzido de certa maneira e que, por outro lado, tem uma utilidade definida: seria impossível imaginarmos um homem que produzisse um corta-papel sem saber para que tal objeto iria servir. Podemos assim afirmar que, no caso do corta-papel, a essência – ou seja, o conjunto das técnicas e das qualidades que permitem a sua produção e definição – precede a existência; e desse modo, também, a presença de tal corta-papel ou de tal livro na minha frente é determinada. Eis aqui uma visão técnica do mundo em função da qual podemos afirmar que a produção precede a existência.

[...]

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito: este ser é o homem, ou, como diz Heidegger, a realidade humana. O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência? Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la. O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade: a subjetividade de que nos acusam. Porém, nada mais queremos dizer senão que a dignidade do homem é maior do que a da pedra ou da mesa. Pois queremos dizer que o homem, antes de mais nada, existe, ou seja, o homem é, antes de mais nada, aquilo que se projeta num futuro, e que tem consciência de estar se projetando no futuro. De início, o homem é um projeto que se vive a si mesmo subjetivamente ao invés de musgo, podridão ou couve-flor; nada existe antes desse projeto; não há nenhuma inteligibilidade no céu, e o homem será apenas o que ele projetou ser. Não o que ele quis ser, pois entendemos vulgarmente o querer como uma decisão consciente que, para quase todos nós, é posterior àquilo que fizemos de nós mesmos. Eu quero aderir a um partido, escrever um livro, casar-me, tudo isso são manifestações de uma escolha mais original, mais espontânea do que aquilo a que chamamos de vontade. Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Assim, quando dizemos que o homem é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem é apenas responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é responsável por todos os homens. A palavra subjetivismo tem dois significados, e os nossos adversários se aproveitaram desse duplo sentido. Subjetivismo significa, por um lado, escolha do sujeito individual por si próprio e, por outro lado, impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana. É esse segundo significado que constitui o sentido profundo do existencialismo. Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens. De fato, não há um único de nossos atos que, criando o homem que queremos ser, não esteja criando, simultaneamente, uma imagem do homem tal como julgamos que ele deva ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal; o que escolhemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem o ser para todos. Se, por outro lado, a existência precede a essência, e se nós queremos existir ao mesmo tempo que moldamos nossa imagem, essa imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade inteira. Se eu sou um operário e se escolho aderir a um sindicato cristão em vez de ser comunista, e se, por essa adesão, quero significar que a resignação é, no fundo, a solução mais adequada ao homem, que o reino do homem não é sobre a terra, não estou apenas engajando a mim mesmo: quero resignar-me por todos e, portanto, a minha decisão engaja toda a humanidade. Numa dimensão mais individual, se quero casar-me, ter filhos, ainda que esse casamento dependa exclusivamente de minha situação, ou de minha paixão, ou de meu desejo, escolhendo o casamento estou engajando não apenas a mim mesmo, mas a toda a humanidade, na trilha da monogamia. Sou, desse modo, responsável por mim mesmo e por todos e crio determinada imagem do homem por mim mesmo escolhido; por outras palavras: escolhendo-me, escolho o homem.

Tudo isso permite-nos compreender o que subjaz a palavras um tanto grandiloqüentes como angústia, desamparo, desespero. Como vocês poderão constatar, é extremamente simples. Em primeiro lugar, como devemos entender a angústia? O existencialista declara freqüentemente que o homem é angústia. Tal afirmação significa o seguinte: o homem que se engaja e que se dá conta de que ele não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade. É fato que muitas pessoas não sentem ansiedade, porém nós estamos convictos de que estas pessoas mascaram a ansiedade perante si mesmas, evitam encará-la; certamente muitos pensam que, ao agir, estão apenas engajando a si próprios e, quando se lhes pergunta: mas se todos fizessem o mesmo?, eles encolhem os ombros e respondem: nem todos fazem o mesmo. Porém, na verdade, devemos sempre perguntar-nos: o que aconteceria se todo mundo fizesse como nós? e não podemos escapar a essa pergunta inquietante a não ser através de uma espécie de má fé. Aquele que mente e que se desculpa dizendo: nem todo mundo faz o mesmo, é alguém que não está em paz com sua consciência, pois o fato de mentir implica um valor universal atribuído à mentira. Mesmo quando ela se disfarça, a angústia aparece. [...] Tudo se passa como se a humanidade inteira estivesse de olhos fixos em cada homem e se regrasse por suas ações. E cada homem deve perguntar a si próprio: sou eu, realmente, aquele que tem o direito de agir de tal forma que os meus atos sirvam de norma para toda a humanidade? E, se ele não fazer a si mesmo esta pergunta, é porque estará mascarando sua angústia. Não se trata de uma angústia que conduz ao quietismo, à inação. Trata-se de uma angústia simples, que todos aqueles que um dia tiveram responsabilidades conhecem bem. Quando, por exemplo, um chefe militar assume a responsabilidade de uma ofensiva e envia para a morte certo número de homens, ele escolhe fazê-lo, e, no fundo, escolhe sozinho. Certamente, algumas ordens vêm de cima, porém são abertas demais e exigem uma interpretação: é dessa interpretação – responsabilidade sua – que depende a vida de dez, catorze ou vinte homens. Não é possível que não exista certa angústia na decisão tomada. Todos os chefes conhecem essa angústia. Mas isso não os impede de agir, muito pelo contrário: é a própria angústia que constitui a condição de sua ação, pois ela pressupõe que eles encarem a pluralidade dos possíveis e que, ao escolher um caminho, eles se dêem conta de que ele não tem nenhum valor a não ser o de ter sido escolhido. Veremos que esse tipo de angústia – a que o existencialismo descreve – se explica também por uma responsabilidade direta para com os outros homens engajados pela escolha. Não se trata de uma cortina entreposta entre nós e a ação, mas parte constitutiva da própria ação.

Quando falamos de desamparo, expressão cara a Heidegger, queremos simplesmente dizer que Deus não existe e que é necessário levar esse fato às últimas conseqüências.


 

Trad.: Rita Correia Guedes . Fonte: L'Existentialisme est un Humanisme, Les Éditions Nagel, Paris, 1970.

Textos 1º ano

Melancolia Filosófica

David Hume

Mas antes de me lançar nessas imensas profundezas da filosofia que se apresentam diante de mim, vejo-me inclinado a deter-me um instante em minha presente situação, e a avaliar essa viagem a que me propus fazer e que sem dúvida requer o máximo esforço e arte para ser concluída com sucesso. Sinto-me como um homem que, tendo encalhado em muitos recifes e tendo escapado com grande dificuldade de um naufrágio em um pequeno estreito, tem ainda a temeridade de retornar ao mar no mesmo navio avariado e castigado pelo mau tempo, e ainda carrega a sua ambição tão longe a ponto de percorrer o globo nessas circunstâncias desvantajosas. Minha memória dos erros e da perplexidade do passado tornaram-me desconfiado do futuro. A condição debilitada, a fraqueza e a desordem das faculdades que devo utilizar em minhas investigações aumentam a minha apreensão. E a possibilidade de emendar e corrigir tais faculdades leva-me quase ao desespero, e quase a preferir perecer nas pedras em que me encontro no momento, do que aventurar-me na imensidão do alto mar. Esta súbita visão de perigo em enche de melancolia; e como ocorre com essa paixão, dentre todas as demais, perder-se em si mesma, eu não posso deixar de alimentar o meu desespero com todas essas reflexões desanimadoras que o presente assunto me oferece com tamanha abundância. Sinto-me assustado e confuso com esta situação desesperante em que me encontro em minha filosofia, e imagino a mim mesmo como um monstro estranho e grosseiro que, não sendo capaz de se misturar e se unir em sociedade, foi expulso do convívio humano, totalmente abandonado e deixado inconsolável. De bom grado misturar-me-ia à multidão em busca de proteção e cordialidade, mas sendo possuidor de tal deformidade, não posso ousar misturar-me. Convido a outros que se unam a mim com o objetivo de constituir uma sociedade à parte, mas ninguém me atende. Todos se opõem à distância e temem a tormenta que me golpeia de todos os lados. Expus-me à inimizade de todos os metafísicos, lógicos, matemáticos e mesmo teólogos; devo alegrar-me com os insultos que tenho de suportar? Declarei a minha desaprovação de seus sistemas; devo surpreender-me por eles expressarem seu ódio de minha pessoa? Quando contemplo todas as disputas, contradições, calúnia e difamação; quando dirijo a minha atenção para o meu interior, não encontro nada senão dúvida e ignorância. Todo o mundo me opõe e me contradiz; tal é a debilidade que experimento que todas as minhas opiniões se desfazem e caem por si mesmas quando não sustentadas pela aprovação dos outros. Cada passo que dou com vacilação e cada nova reflexão me faz temer um erro ou um absurdo em meu raciocínio. Ora, com que confiança posso aventurar-me a um empreendimento tão audaz quando, além das infinitas debilidades que me são peculiares, descubro tantas outras que são comuns à natureza humana? Posso estar seguro de que ao abandonar todas as opiniões estabelecidas chegarei à verdade? E por qual critério devo distingui-la se a fortuna guia por fim os meus passos? Após o mais preciso e exato dos meus raciocínios, não posso dar uma razão do porquê deva eu assentir a ele e não experimento mais do que uma forte inclinação a considerar os objetos fortemente do ponto de vista a partir do qual se me apresentam.

(...)

Nada é mais perigoso à razão do que os vôos da imaginação... Mas, por um lado, se a consideração dessas instâncias me leva a rejeitar todas as sugestões triviais da imaginação e a aderir ao entendimento...; mesma essa rejeição, se executada com sucesso, seria perigosa... . ... o entendimento, quando atua sozinho, subverte-se a si mesmo inteiramente, e não deixa o menor grau de evidência em qualquer proposição, seja em filosofia, seja na vida comum... Será que temos, então, de estabelecer como máxima geral que nenhum raciocínio elaborado ou refinado deva ser aceito?... Por tal meio eliminamos totalmente toda ciência e toda filosofia... Se aceitamos tal princípio..., chegamos aos maiores absurdos. Se o recusamos em favor desses raciocínios, subvertemos inteiramente o entendimento humano. Reflexões muito refinadas têm pouco ou nenhuma influência em nós; e no entanto não podemos estabelecer como regra que elas não tenham qualquer influência...

Ocorre que, felizmente, uma vez que a razão é incapaz de dissipar essas nuvens, a própria natureza basta para tal propósito, e me cura dessa melancolia e desse delírio filosófico, seja relaxando essa inclinação da mente, seja por alguma... impressão vivaz dos sentidos, que ofusca todas as quimeras. Eu janto, jogo gamão, converso e me divirto com meus amigos; e quando, após três ou quatro horas de divertimento, eu retorno a essas especulações, elas parecem tão frias... e ridículas...

Assim, vejo-me absoluta e necessariamente inclinado a viver, e a conversar, e a agir como as outras pessoas nos seus afazeres diários... Estou pronto a lançar todos os meus livros e papéis ao fogo, e a jamais renunciar aos prazeres da vida por causa do raciocínio e da filosofia.

(...)

Quando então me canso de tanto divertimento e companhia, e tendo sido levado à meditar em meu quarto, ou em um passeio solitário ao longo do rio, sinto a minha mente completamente absorta em si mesma, e me vejo naturalmente inclinado a conduzir a minha visão a todos esses assuntos sobre os quais encontrei tanta disputa no curso da minha leitura e conversação. Não posso deixar de ter curiosidade acerca dos princípios morais do bem e do mal, a natureza e o fundamento dos governos, e a causa dessas tantas paixões e inclinações que atuam em mim e me governam. Me sinto desconfortável em pensar que aprovo um objeto e desaprovo outro; que chamo algo de belo e algo de feio; que decido a respeito da verdade e da falsidade... sem saber com base em quais princípios eu procedo... Sinto uma ambição crescente em mim de contribuir para a instrução da humanidade... Esses sentimentos surgem naturalmente em minha presente disposição... Sinto que deva ser um perdedor no que concerne ao prazer; e essa é a origem da minha filosofia.

(excertos do Treatise of Human Nature de David Hume, Conclusão do Livro I)

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/hume.htm

Mito da Caverna em quadrinhos


Estória em quadrinhos sobre o "Mito da caverna", por Maurício de Sousa. O original está aqui.


Para ler melhor, vá clicando em cada imagem.



Textos 1º ano



PLATÃO A REPÚBLICA LIVRO VII



Sócrates — Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construída um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.


Glauco — Estou vendo.


Sócrates — Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.


Glauco — Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.


Sócrates — Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais da que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?


Glauco — Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?


Sócrates — E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?


Glauco — Sem dúvida.


Sócrates — Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?


Glauco — E bem possível.


Sócrates — E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?


Glauco — Sim, por Zeus!


Sócrates — Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.


Glauco — Assim terá de ser.


Sócrates — Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer as olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os abjetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçada e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que as objetos que lhe mostram agora?


Glauco — Muito mais verdadeiras.


Sócrates — E se a forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?


Glauco — Com toda a certeza.


Sócrates — E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhas ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?


Glauco — Não o conseguirá, pelo menos de início.


Sócrates — Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homem e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu da que, durante o dia, o Sol e a sua luz.


Glauco — Sem dúvida.


Sócrates — Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal como é.


Glauco — Necessariamente.


Sócrates — Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.


Glauco — E evidente que chegará a essa conclusão.


Sócrates — Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que aí foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?


Glauco — Sim, com certeza, Sócrates.


Sócrates — E se então distribuíssem honras e louvares, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?


Glauco — Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.


Sócrates — Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?


Glauco — Por certo que sim.


Sócrates — E se tiver de entrar de nova em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?


Glauco — Sem nenhuma dúvida.


Sócrates — Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz da fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; na mundo visível, ela engendrou a luz e o soberana da luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.


Glauco — Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.


Sócrates — Pois bem! Compartilha-a também neste ponto e não te admires se aqueles que se elevaram a tais alturas desistem de se ocupar das coisas humanas e as suas almas aspiram sem cessar a instalar-se nas alturas. Isto é muito natural, se a nossa alegoria for exata.


Glauco — Com efeito, é muito natural.


Sócrates — Mas como? Achas espantoso que um homem que passa das contemplações divinas às miseráveis coisas humanas revele repugnãncia e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e não estando suficientemente acostumado às trevas circundantes, é obrigado a entrar em disputa, perante os tribunais ou em qualquer outra parte, sobre sombras de justiça ou sobre as imagens que projetam essas sombras, e a combater as interpretações que disso dão os que nunca viram a justiça em si mesma?


Glauco — Não há nisso nada de espantoso.


Sócrates — No entanto, um homem sensato lembrar-se-á de que os olhos podem ser perturbados de duas maneiras e por duas causas apostas: pela passagem da luz à escuridão e pela da escuridão à luz; e, tento refletido que o mesmo se passa com a alma, quando encontrar uma confusa e embaraçada para discernir certos objetos, não se rirá tolamente, mas antes examinará se, vinda de uma vida mais luminosa, ela se encontra, por falta de hábito, ofuscada pelas trevas ou se, passando da ignorância à luz, está deslumbrada pelo seu brilho demasiado vivo; no primeiro caso, considerá-la-á feliz, em virtude do que ela sente e da vida que leva; no segundo, lamentá-la-á e, se quisesse rir à sua custa, as suas zombarias seriam menos ridículas do que se dirigissem à alma que regressa da mansão da luz.


Glauco — E a isso que se chama falar com muita sabedoria.


Sócrates — Se tudo isto é verdadeiro, temos de concluir o seguinte: a educação não é o que alguns proclamam que é, porquanto pretendem introduzi-la na alma onde ela não está, como quem tentasse dar vista a olhos cegos.


Glauco — Mais uma verdade.


Sócrates — Ora, o presente discurso demonstra que cada um possui a faculdade de aprender e o órgão destinado a esse uso e que, semelhante a olhos que só poderiam voltar das trevas para a luz com todo o corpo, esse órgão deve também afastar-se com toda a alma do que se altera, até que se tome capaz de suportar a vista do Ser e do que há de mais luminoso no Ser. A isso denominamos o bem, não é verdade?


Glauco — É.


Sócrates — A educação é, pois, a arte que se propõe este objetivo, a conversão da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de o conseguir. Não consiste em dar visão ao órgão da alma, visto que já a tem; mas, como ele está mal orientado e não olha para onde deveria, ela esforça-se por encaminhá-lo na boa direção.


Glauco — Assim parece.


(PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997.)

quinta-feira, 15 de abril de 2010



photo by Boston Globe

Ando Meio Desligado

(Rita Lee)
Ando
Meio desligado
Eu nem sinto
Meus pés no chão
Olho
E não vejo nada
Eu só penso
Se você me quer
Eu nem vejo a hora
De te dizer
Aquilo tudo
Que eu decorei
E depois do beijo
Que eu já sonhei
Você vai sentir mas
Por favor
Não leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal